Aula de música, de Patrícia Lino, como recriação metafórica da pós-autonomia da literatura
DOI:
https://doi.org/10.47133/NEMITYRA20240602b-A1Palabras clave:
Patrícia Lino, Literatura pós-autônoma, Héracles, GréciaResumen
O objetivo deste artigo é apresentar e discutir o livro Aula de música, da poeta, ensaísta e professora da University of California, Los Angeles (UCLA), Patrícia Lino. O livro é oferecido como um “poema em quadrinhos”, em que – de forma épica – é contado em versos o incidente que levou à morte de Lino, o professor de música “que executava o canto com cítara e movia pedras e árvores” (PSEUDO APOLODORO), assassinado pelo “herói” grego, Héracles, aquele responsável pelos doze trabalhos. Lino é mencionado em apenas um verso da Ilíada de Homero: “o hino de Lino entoava com voz delicada, à cadência” (HOMERO). No entanto, já existem traduções em que seu nome nem sequer aparece mais. Ao contrário de seu assassino, Héracles, cujo nome e feitos são permanentemente celebrados no Ocidente até hoje, o que nos permite compartilhar a advertência sob a forma de questionamento da autora: “pois não perde sempre a delicadeza para a força bruta?” (LINO). É possível pensar em Walter Benjamin para quem “enquanto os sofrimentos de um único ser humano forem esquecidos, não haverá libertação.” Héracles, o filho de Zeus, foi absolvido perante o tribunal, invocando a Lei Radamantis, por legítima defesa, pela morte do velho professor. A obra de Patrícia Lino incita a discussão tanto a partir da forma quanto do conteúdo. Sob a forma, Aula de música rompe com os limites entre os gêneros literários e artísticos, pois mescla literatura, desenho e música, através de uma concepção performática, centrada em uma proposta de literatura pós-autônoma. Assim, ela promove o entre lugar, entre poesia e história em quadrinhos, entre intertexto e adaptação, na recriação da música por meio de imagens. Busca, inclusive, a diferença na repetição, pois, no livro trilíngue, temos a versão do poema em português, espanhol e inglês e o também o simulacro na cópia, porque não se pretende emular o mito grego, mas rediscuti-lo, tanto sob uma perspectiva simbólica quanto à sobrevivência mesmo do mito (o que nos permite pensar na relação com a nachleben de Aby Warburg, como empregado por Didi-Huberman). Patricia Lino afirmou recentemente em evento na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que “a Grécia também é lugar de disputa”. Logo é necessário revisitar esses mitos gregos, a partir de uma perspectiva decolonial e feminista, para enfim exorcizar de nosso imaginário uma Hélade masculina, branca, loura, machista e racista. Para tanto se amparou no pensamento de Walter Benjamin, Aby Warburg, Gilles Deleuze, Felix Guattari, Georges Didi-Huberman, Michel Löwy, Flora Süssekind e Josefina Ludmer.
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Citas
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Derechos de autor 2024 Adriano Guedes Carneiro; Karina Frez Cursino; y Revista Ñemitỹrã
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